(im)possibilidades

18.4.12
(im)possibilidades
 
Já muita 'tinta' correu nesta blogosfera sobre as mães e os filhos e o trabalhar dentro e fora de casa. E eu sei que nestes dias chatos de chuva, aquilo que mais desejam as pessoas que abandonam as suas casas pela manhã era poder ficar lá dentro com as suas crias e sem ninguém a chatear.
E eu cá estou, em casa, com todas as coisas boas que isso me traz mas também a perceber as incompatibilidades de uma vida caseira. É que antigamente estar em casa a cuidar dos filhos era isso mesmo, e pronto, ficava assim bem aceite e compreendido por ambas as partes. Mas hoje temos estas janelas fantásticas para o mundo e toda uma panóplia de tecnologias que nos trazem a ilusão de que podemos estar em casa, cuidar das crianças e ser umas mães dedicadas, e ainda trabalhar e criar valor daquele que (por vezes) consegue ser remunerado.
Pois eu não acho isso possível. Lamento se estou a desiludir algumas pessoas que me lêem, mas a vida é mesmo assim.
É que, eu por exemplo, para conseguir fazer qualquer coisa, seja de cariz intelectual ou manual, preciso de umas boas 2 ou 3 horas a me dedicar e concentrar na coisa. Os 15 minutos atuais em que me consigo concentrar em alguma coisa não dão. E alternar entre tentar 'produzir' alguma coisa e evitar que as crianças caiam abaixo das escadas ou comam algo que não se desfaz no estômago é uma atividade que requer algum 'andamento'. E depois de me levantar para qualquer uma das coisas relativas à casa/maternidade, em intervalos tão curtos como 15 ou 30 minutos, não me permite ter continuidade em quase nada. No final do dia, fica sempre aquela sensação de trabalho 'não feito' e de pouca atenção às crianças, porque estivemos a tentar fazer aquilo que não conseguimos.
É uma frustração, é o que vos digo.
Não há vidas perfeitas, nem trabalhos perfeitos, nem casas perfeitas, nem mães perfeitas. Somos o que somos e fazemos o melhor que podemos e que a vida nos deixa. Mas eu confesso que neste momento precisava de um espaço para ser só eu e as minhas ideias e a minha capacidade produtiva e depois, fechar a porta desse espaço e ser só eu, e a minha família, e os tachos e as panelas e os beijos e os abraços e as histórias e músicas novas.
E abandonar esta sensação de tentativa/erro diária que me tem vindo a desgastar.

23 comentários:

  1. Compreendo na perfeição o que quer dizer e concordo em pleno. Eu diria que trabalhar em casa com crianças é missão impossível. Falo por experiência própria.

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  2. clap clap clap....
    como eu concordo contigo ! Mais, acho que nos dias que correm com redes sociais e afins há uma necessidade maior de as pessoas se mostrarem , sendo que muitas vezes só mostram o lado bom da vida - correndo depois o risco de passarem por super famílias e super mulheres. quando no entanto são tão humanos como eu e tu e todas as outras ...:)

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  3. Eu faço parte das mães que saem de casa bem cedo e desejam muito ficar em casa, sobretudo em dias como o de hoje, com muita chuva. Abraçar a minha fofucha, dar-lhe muitos beijinhos e com todo o tempo para aproveitar em casa. O que é certo é que 15 minutos "sem ela" rendem o triplo do que na sua presença e responsabilidade de supervisão. Compreendo perfeitamente o que dizes. Aliás, ando neste momento a adiar a organização do meu "IRS" para preenchimento da dita declaração, precisamente porque preciso de "sossego". Mas, há 17 meses que percebi que a vida é assim mesmo. Mas mesmo assim é boa. Muito boa. Não achas?!

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  4. Como compreendo isso!
    Só a sensação de tentar fazer 1.000 coisas ao mesmo tempo e ter-se a reputação de que nem 1 fazemos...

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  5. É bom ler essa honestidade.

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  6. isto de facto dá pano pra mangas.
    eu estou na mesma, claro. e rosno a quem me diz que os meus filhos já são mais crescidos (12, 8 e 5 anos) e já não tenho fraldas nem papinhas... tretas! a idade deles avança (a minha também) e cada vez precisam de mais coisas, mais atenção e dedicação exclusiva.
    e as escolas e os tpc's e o querermos que eles sejam mais do que são, porque sabemos que podem ser. tenho uma amiga que diz que lhe está a custar mais a escola do filho do que lhe custou a dela... pudera!
    mas sabes que mais? o que realmente me confunde é que a minha mãe, por razões completamente diferentes, acabou por estar em casa com os filhos. também tentava fazer coisas vendáveis como eu e nunca se queixou.
    os tempos são outros... e nós também.

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  7. Este comentário foi removido pelo autor.

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  8. Como eu te compreendo! (embora não tenha filhos!) Durante dois anos trabalhei em casa e ainda assim foi terrivel, não percebo muito bem como há pessoas que o conseguem fazer bem. Acho que só quem não passa por isto é que pensa que estar em casa a trabalhar é que é bom. Sou mt mais produtiva fora de casa, e quando tenho a cabeça cheia de problemas, bato a porta do escritório, e vou para casa (sabe tão bem!).

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  9. compreendo, concordo, solidarizo-me!

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  10. Eu optei por pôr a E. na creche, porque tenho que produzir. Custa um bocadinho, mas acho que é para o bem da família. E ao fim do dia deixo o que está feito e o que está por fazer no estúdio.
    Força nas canetas que amanhã é outro dia.

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  11. Eu sei perfeitamente do que falas mas todos os dias penso que mesmo assim prefiro estar presente na vida deles e trabalhar para mim, no meu lugar. Eu, com um flho de 10 anos, já me começava a sentir livre e com tempo para o meu trabalho. Agora com uma bebé de 4 meses.... ;) Mas isto para te dizer que daqui a uns tempos, quando estiverem mais velhas, as tuas filhas já te dão mais espaço e tempo para seres quem és na totalidade.
    Gosto de bloggers assim, com coragem para dizer a verdade, que não se limitam a encher o blog de fotografias bonitas mas sem nada por dentro. Eu pessoalmente acho a verdade muito mais inspiradora!

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  12. Também a mim, sinto-me completa e totalmente desgastada!

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  13. Rosário, mas essas preocupações terias na mesma se trabalhasses fora... as preocupações estarão lá sempre, tu é que podes ou não estar.

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  14. Rosário, mas essas preocupações terias na mesma se trabalhasses fora... as preocupações estarão lá sempre, tu é que podes ou não estar.

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  15. totally agreed, eu trabalho em casa mas os meus filhos estão na creche.

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  16. Apesar de ainda não ter filhos, o teu post foi tema de conversa ontem, à mesa de jantar :P - p.f. notar a palavra "ainda" :). Mas será que o equilibrio trabalho-familia alguma vez irá existir completamente? Esta coisa de "viver" é um caos, e tentar ter algum controlo, é nada mais que inocência pura. O meu trabalho é uma parte essencial da minha vida e não consigo imaginar-me a não o fazer, por isso posso imaginar a frustração. Aliás, eu sinto isso todos os dias de qualquer maneira, por isso...vai ser bonito vai!...:P

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  17. Já muitas vezes disse isto a outras mães que trabalham dentro de casa: para as que trabalham fora de casa, a sensação do fim do dia é também muitas vezes (senão todas as vezes) a sensação de trabalho por fazer, a pouca atenção dada às crianças, o pouco (ou nenhum) tempo para nós, para fazermos aquilo que gostariamos de fazer. Também é muitas vezes uma frustração que só se salva com a ideia de que não há mães perfeitas e que o máximo que podemos fazer é tentar fazer o melhor que podemos.
    Ainda ontem dei por mim a pensar se haveria outras mães que dizem aos filhos "agora não posso" sem se preocuparem em perceber o que eles querem, depois de os ouvirem chamar por elas. Fui eu que fiz isso, claro. Estava a limpar o chão da cozinha e já só me queria sentar um bocado sem ouvir ninguém. Já só queria fugir para parar de fazer 500 coisas ao mesmo tempo: tentar ouvir as notícias enquanto ele me contava a história de uma luzinha, tentar ir à net enquanto ele dava chutos na bola e a bola ia parar aos móveis, tentar cozinhar e arrumar a cozinha com ele a tentar ajudar-me e eu a tentar ser delicada para não lhe transmitir a ideia de que me estava a atrapalhar, falar ao telefone enquanto desenho números e letras e ele começa a saltar para cima de mim, bla bla bla.
    Também posso dizer que já trabalhei em casa, não tinha filhos, e era igualmente frustrante. E também sinto que, à medida que eles vão crescendo, começamos a conseguir ter mais tempo para nós. Mas isso sou eu que acho, porque só tenho um.

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  18. bem...este post esta muito bom, nao pela escrita correcta, q n estou ca p avaliar essas coisasm e nem me passou pela cabeça, mas pela frontalidade com q esta escrito.."infelizmente"- note se as aspas- sinto q começo a pertencer a este grupo...chego sp ao final do dia c a sensaçao de frustraçao eminente...ora pk tenho roupa no cesto a transbordar, ora pq tenho as camas por fazer, ora porq o jantar levou mais tempo a fazer e la roubei mais uma vez o tempo q tinha para a minha L...n tem sido facil...o q faço entao? ao final do dia qd chegamos a casa ligo o radio e dançamos as 2 nem q seja 3minutos! ela fica feliz e eu solto apoeira acumulada do dia, e dps a noite vemos 15 m do shrek no pc deitadas na cama! se e suficiente? n sei sinceramente, mas sei q tentei introduzir estas 2 coisas, e q me custam imenso, porq enqt as faço n estou a dobrar ou a limpar, mas ja e um começo! e so tenho uma, e quero ter mais um filho! sera possivel? bjinhos

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  19. Olá Sílvia,
    Também trabalho em casa, e mesmo sem filhos, tenho de admitir que o esforço para nos concentrarmos e organizarmos tem de ser muito grande!
    Parece que o dia não acaba com um "well done!"
    Beijinhos.

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  20. não há pior que frustrações. se é um problema para ti não podes procurar uma solução? acredito que o dinheiro não abunde mas não poderias contratar uma babysitter umas horas? uma avó simpática por perto? o pai tirar uma tarde, chegar mais cedo? não me entendas mal, estou a atirar ideia para o ar, gostava de ter dar uma solução...
    não te conformes e procura uma situação de equilíbrio que te dê tempo. fico sempre triste qdo vejo mulheres a desistir do seu trabalho, desejos, criatividade por falta de tempo e falta de ajuda.
    o vídeo que colocaste hj é um murro no estômago.
    força aí!

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  21. Olá Sílvia. Compreendo e identifico-me com o que escreveste neste post.

    Sou mãe de uma menina de três anos e fiquei com ela em casa até aos oito meses. Desde aí que trabalho fora de casa. Além de mãe e profissional sou apaixonada pelos crafts, pelo jardim, pela decoração e pelos blogs de tantas mulheres que, pelo mundo fora, partilham esses mesmos interesses. Quando estou em casa sinto exatamente as mesmas dificuldades que tão bem descreves e persegue-me o mesmo sentimento de cupla e de frustração.

    Tenho de te dar os parabéns por este post. Nos blogs, e na internet de um modo geral, as pessoas só mostram aquilo que querem (já reparei que este é o tema de outro post que também hei-de comentar)e é muito fácil deturpar a realidade. Não acredito que alguém consiga ter a casa perfeitamente limpa e arrumada, preparar refeições nutritivas, brincar com as crianças e fazer artesanato para vender ou qualquer outro tipo de trabalho. Muito menos quem ainda trabalha fora de casa. O problema é que muitas vezes acreditamos que isso é possível. Eu estou a lutar por ultrapassar esta sensação de não conseguir terminar nada, de não dar atenção suficiente à minha filha, de tudo querer fazer e nada sair bem feito. Acho que passa por nos dedicarmos a 100% ao que estamos a fazer num determinado momento ao invés de tentar fazer tudo em simultâneo. É que cozinhar, fotografar a refeição para mais tarde postar a receita e ter de interromper esta atividade para uma breve incursão à casa de banho onde a minha filha grita por ajuda, regressar à cozinha onde o computador está ligado em cima da mesa para acompanhar as últimas novidades da blogosfera e mais não sei quantas outras coisas, não é tarefa fácil...

    Obrigada pela honestidade!
    Tudo de bom,

    Sandra Baltazar
    www.seteideiasemeia.blogspot.com

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  22. Como eu concordo contigo, adorei as tuas palavras.
    Espero que não te importes, eu tenho uma rubrica no meu blog que se chama "Directamente do Coração", todas as semanas escolho um texto/frase que tenha gostado e hoje o teu foi o escolhido :)

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