"Não é como eu quero, é como Deus determina"

30.10.13
Vivi grande parte da minha vida na Praia de Esmoriz, zona de praia, pescadores e mar bravo.
Recordo-me como se fosse hoje de ouvir falar de tragédias, de pescadores que desapareciam no mar, barcos que nunca mais voltavam, uns que iam e outros que ficavam.
Quando olhava para aquele mar, no pico do Inverno, que entrava pelas casas das pessoas, pelas ruas, e pelos bairros, não pedia licença e levava tudo consigo, pensava como é que ainda haviam pessoas capazes de o enfrentar com um barco, um motor e a esperança de uma pescaria. Perguntava à minha mãe, porque é que aquelas pessoas não desistiam e iam fazer outra coisa, sendo que ela me respondia: "É a vida deles". Como se de um destino se tratasse, de uma sina, de uma marca de nascimento que nunca desaparecia.
Mas, apesar de nunca ter conseguido perceber bem, acho que para além da sina, há também uma qualquer adrenalina que o mar impregna nestas gentes e que faz do constante desafio um modo de vida. Um equilíbrio ténue entre o respeito pela natureza e o medir forças com ela.
Modo de vida esse que é praticado e sentido pelos surfistas. E se os outros enfrentam o mar porque nasceram nele e dele se alimentam, estes enfrentam o mar numa relação David e Golias, alimentados por uma adrenalina que a maioria de nós não sabe o que é, mas que deve ser algo tão gigante como o tamanho das ondas que eles desafiam.
Vejam o vídeo...e respirem no fim!

[sim, foi nestas ondas que a surfista Maya Gabeira quase perdeu a vida, ao que responde sem hesitar: "faria tudo outra vez", está explicado...ou não?]

music never dies

27.10.13
(no words, just music)

onde está a beleza?

25.10.13



O que faz de algumas mulheres extraordinariamente bonitas? Bonitas com ou sem maquilhagem, mais magras ou mais gordas, mas invariavelmente bonitas.

Hoje em dia já não são as estrelas de cinema e da música que admiramos. Podemos admirar qualquer mulher que aparece num ecrã de computador ou da rua, como se de uma 'movie star' se tratasse. Não faltam blogs e fotografias mais ou menos caseiras de milhares de mulheres do mundo.

Quem é que vocês admiram? Qual é a beleza que vos faz parar e olhar. São os olhos azuis, os lábios pintados, o corpo atlético, o estilo irreverente?
Ou há algo para além dos aspectos exteriores que faz de algumas mulheres imagens especiais? Sei bem que as mulheres vêm as outras mulheres com olhos muito diferentes dos homens. Gostava por isso de saber como vocês classificam e vêm a beleza feminina. Quais são as mulheres mais bonitas para vocês? Do cinema, da música, da internet, da rua, não interessa...quem e porquê é a pergunta!

Fica aqui uma das minhas eleitas, a Marion Cotillard, tem um olhar que não me deixa esquecer a cara dela, o sorriso, o magnetismo.

ferrugem e osso

24.10.13
Foi o que aconteceu ontem por aqui. Quando já estava quase a cair para o lado de tanto cansaço e trabalho eis que vejo a minha preferida de sempre Marion Cotillard e resolvo aguentar-me mais uns minutos...que se tornaram mais de uma hora. E chorei como já há muito não chorava num filme, não porque o drama é intenso, mas porque é verdade que um azar nunca vem só, que as coisas lixadas acontecem quando menos esperamos e que o amor, mesmo sem ser cor de rosa e com música de fundo salva-nos a todos. E sim, desde que sou mãe que não consigo ver nada que envolva crianças, dormi com o coração apertado a noite toda, a pensar se o azar mais alguma vez me poderia calhar...

aqui a publicidade é quando eu quero

21.10.13

Livro "Erva uma vez..." from Patrícia Vilela on Vimeo.

Já aqui vos falei da Patrícia e do Forking Amazing há uns meses atrás quando ela veio cá a casa fazer um workshop para nós. Pois agora ela escreveu um livro que está quase a sair e que me parece juntar duas coisas que eu vou gostar: plantar aromáticas e cozinhar com elas. Faz sentido não é? Pois por isso mesmo se estiverem interessados neste livro podem comprá-lo aqui em pré reserva a um preço simpático, ou então esperar para que saia o livro e verem ao vivo e a cores no lançamento.
Para saber mais visitem o site do Forking Amazing.
Por aqui já vai para a minha wishlist e vai ser um óptimo presente de Natal para muita gente que eu conheço!

Bom início de semana para todos!

[they do their own thing]: humans of new york

18.10.13
"If you could give one piece of advice to a large group of people, what would it be?"
"Be kind and thoughtful."
"What’s your greatest struggle right now?"
"Being kind and thoughtful. Because I’ve got some friends that are driving me freaking nuts." 

Ontem ouvi uma entrevista com o autor do humans of new york e hoje cruzei-me novamente com ele no blog 'a refinaria' e resolvi por isso falar-vos deste blog, que é já um fenómeno mundial, mas que eu gosto cada vez mais.
Hoje há muita gente a fazer fotografias, há muita gente a fotografar e fazer blogs de streestyle e quando pensamos nisso, parece que já vimos quase tudo o que os nossos olhos poderiam ver. Mas não. Há sempre quem faça as coisas à sua maneira e a sua maneira é tão sua que se torna inimitável. Não sei se as fotos são boas ou más, também não procuro qualidade fotográfica nas coisas que vejo, mas sei que já me emocionei vezes sem conta com as histórias e as caras das pessoas que aparecem neste blog.

As fotografias do Brandon, são verdadeiros retratos de pessoas. As histórias que ele partilha com os retratos são preciosas para quem lê e vê. Duas ou três linhas que conseguem mudar a forma como vemos uma imagem. E nunca, mas nunca me canso. Podem vir mais milhões de fotografias de pessoas neste blog que eu vou sempre querer espreitar as 3 linhas que estão por baixo, sempre com curiosidade, sempre com surpresa.
E porquê? Porque será este blog tão diferentes de tantos outros? Porque serão estas imagens tão reais? Porque é que o que ele faz mais ninguém faz igual? Porque ele faz a sua própria 'cena', não importa se outros também tiram fotografias a pessoas na rua, não se trata de ser melhor ou pior, trata-se de ser real.

E ser real, nos dias que correm, no trabalho que fazemos, nas coisas que partilhamos, nas redes sociais é cada vez mais difícil, há fórmulas e filtros para tudo e mais alguma coisa, regras de sucesso e ideais de fama, organização de ideias e sequências de prioridades. O parecer suplanta em tudo o ser. Competem-se por likes e visualizações, por negócios e visibilidade, tudo online, tudo por trás de uma cortina de fumo e glamour que nos afasta das pessoas reais. A presença online não significa uma vida paralela, somos nós, as mesmas pessoas que estamos do lado de cá, as que somos do lado de lá.
Não precisamos de ser os primeiros e únicos a ter a ideia ou a fazer o que fazemos, isso é uma ilusão, a inovação é sempre o reciclar de algo que já existe, o ver de outra forma de outro prisma. O que nos faz então tão diferentes, o que distingue os nossos trabalhos e criações? É a parte que nos sai do corpo, o esforço que temos de fazer para alcançar coisas simples, mas que somos nós e só nós que o fazemos, são os nossos erros, os nossos falhanços, as tentativas sucessivas, o trabalho mal feito, os passos em falso que damos para avançar, depois há um dia em que fazemos algo que sai bem, e nesse dia percebemos qual o bocadinho de nós que é só nosso e que nos faz tão diferentes de todos os outros!


STORYBOARD: Capturing the 'Humans of New York' from Tumblr on Vimeo.

um presente e as novas tecnologias

17.10.13

Hedgehog Book Trailer from Ardozia on Vimeo.

Ganhei!!!!!
Ganhei o livro do ouriço, uma app portuguesa para crianças, que tem 3 histórias interactivas muito, mas mesmo muito fixes. Tudo criado, pensado e produzido por portugueses em Portugal: podem espreitar o site e outros jogos e programas em ardozia.com.
Ontem já experimentamos e as miúdas adoram (confesso que eu também, empurramos umas às outras para ver quem escolhe o próximo passo). Pois eu ganhei este fantástico livro no blog da Ana (doce para o meu doce) num presente que ela ofereceu aos seus leitores em conjunto com a Ardozia. Fiquei feliz, porque as minhas filhas gostaram, e porque eu não concorro a todos os concursos que cruzam o meu caminho, apenas aqueles cujo produto realmente me interessa, este  foi um deles e eu raramente ganho alguma coisa, por isso  foi um dia sorte!

Queria também aproveitar para falar um pouco das crianças e das novas tecnologias. Esse bicho papão que lhes vai comer o cérebro! (será que já comeu o nosso?).

Há uns bons tempos atrás cruzei-me no FB com uma discussão acesa por causa de uma foto que tinha sido tirada a uma família num restaurante, em que as crianças estavam a brincar com um gadget qualquer e os pais estavam a comer e a falar um com o outro. Caiu o carmo e a trindade! Porque aqueles pais, coitadas das crianças, é o mundo que temos, blá, blá, blá...claro que também apareceu por lá uma outra versão de pais que disseram que se lhes tirassem aquela fotografia e a usassem na net naquelas circunstâncias estariam naquele momento a enfrentar um processo judicial!

Eu na altura não tinha telefones espertos (ainda não tenho) nem ipads nem nada do género, pelo que, à boa moda antiga ia para os restaurantes com um saco de livros e canetas e coisas para as miúdas se entreterem quando acabam de comer e nós podermos engolir o nosso jantar nas melhores condições possíveis. Nunca vi ninguém a criticar isso, uma criança com um livro ou um puzzle numa mesa de restaurante. Agora se for um gadget...alto!!!!

Hoje tenho um ipad e posso vos dizer que é uma ferramenta espectacular para as crianças. Em apenas um objecto temos dezenas de livros, lápis de colorir, pincéis, puzzles, músicas, jogos didácticos, tudo! Não se estragam folhas nem caem canetas por todo lado e podem brincar as duas. Tem sido precioso, nos momentos de espera, em consultas, nos restaurantes, todas aquelas situações em que precisamos de ter algo à mão para os miúdos brincarem.
Isto não tira o lugar ao parque, nem à rua, nem à bicicleta, pode ser difícil de gerir as vontades, pode, mas uma coisa não mata a outra, complementam-se em situações distintas.
E depois há coisas incríveis que eles hoje podem fazer com a tecnologia, que nós nunca tivemos disponível quando éramos crianças, e isso abre uma série de possibilidades para eles, que são preciosas. Há outras coisas que nós tivemos e eles não vão ter, também é verdade, mas os tempos são o que são, o que não muda é o amor e o carinho que temos de ter para eles, o resto muda, e há que aceitar e incluir as mudanças da melhor maneira possível, ou então, como acontece comigo, brincarmos também um pouco, porque afinal, para nós estes brinquedos são tão novos como para eles!

---

E eu acredito que as novas tecnologias são um super poder ao nosso alcance e que nas escolas do futuro, aprender código deveria ser como qualquer outra disciplina, para todos. Garanto-vos que ia abrir todo um novo espectro de possibilidades não só tecnológicas, mas também criativas na vida de muitas pessoas. Fica aqui um pequeno filme de um movimento que se criou nos EUA e que pretende fomentar a aprendizagem de código nas escolas (via swiss miss).


para contrariar o cinzento de ontem

15.10.13






Ontem afirmei aqui que a moda anda deprimida assim como eu quando a vejo!
Mas hoje ao falar com a Patrícia, ela relembrou-me de outra Patrícia, que se não estivesse lá no outro lado do oceano (Madeira) tinha uma cliente assídua na sua loja.
É que eu vejo-me dentro de quase todos os seus coordenados, e sim, com tudo junto, assim bem misturado é como eu gosto:)

it's oh so boring

14.10.13


Actualmente não tenho qualquer receio (financeiro) de entrar num qualquer templo do consumismo, porque a maior probabilidade que eu tenho, é sair de lá com uma boa dor de cabeça, ou então demorar menos de 5 minutos, entre entrar, ver e sair...
Dá para perceber, não dá?
Entre os cinzas, beiges, camel e preto, e aquele pseudo estilo rockeiro wanna be que invadiu as montras e o corpo de muita gente, posso dizer-vos que entrei no outro dia na zara e não queria nada, mesmo nada do que lá estava.
Tem sido óptimo para a minha carteira.
Mas fico tão entediada com a moda dita acessível...mesmo, que tédio, tenho saudades de sentir vontade de comprar um casaco que acho super giro, ou umas botas, qualquer coisa, é que não sinto vontade de comprar nada. Bem, melhor para a minha vida financeira, pior para o meu ego:)

palavras sem filtro

10.10.13
Eu vejo e leio muita coisa online, a toda a hora, todos os dias.
Algumas dessas leituras fazem parte do meu trabalho, outras são mero prazer, outras acontecem por acaso. O Facebook é a aplicação que nos traz mais palavras e imagens por minuto, sendo que o que o caracteriza é o facto de não escolhermos tudo o que lemos no nosso mural. Lemos de forma automática porque caiu em frente dos nossos olhos, não há tempo para muita selecção e não pensamos quase nunca no impacto, positivo ou negativo, destas palavras e imagens que nos entram pela vida dentro todos os dias.
Foi por isso que reparei com espanto que comecei a ter uma preferência por alguns posts que caíam no meu mural. Tirando os amigos e pessoas próximas que nos dizem algo mais pessoal, as muitas páginas de pessoas e projectos profissionais que seguimos acabam por se esbater nos milhares de pixeis de imagens que vemos e nas muitas letras que acompanham as conversas online.
Percebi que prestava uma especial atenção aos posts da Isabel Saldanha.
A Isabel Saldanha é uma fotógrafa muito conhecida, mas eu não sabia disso até investigar melhor, comecei a seguir a página dela por causa com certeza de alguma fotografia que gostei, mas foi e é nas palavras que colo quase todos os dias.
A Isabel escreve bem, muito bem, mas também não é a qualidade da escrita que me deixa feliz cada vez que vejo a foto de perfil da página dela aparecer no meu mural.
Em cada entrada que ela faz no Facebook, para além da fotografia, há sempre uma história. Da vida dela, dos outros, do que ela vê, do que ela pensa e sente. Uma história com princípio, meio e fim, que me deixa invariavelmente com uma expressão na cara: riso, sorriso, pensamento, melancolia. Qualquer coisa, mas nunca fico indiferente ao que ela me contou naquele dia.
Este post podia ser um post técnico em que eu vos tento exemplificar como se deve fazer para ter uma boa presença nas redes sociais, mas não é. Não é, porque isto que a Isabel faz não se aprende, não se coloca como lembrete na agenda, não se escolhe fazer para o ano novo. Faz-se.
As palavras da Isabel não têm filtro, ela não precisa de muito para as escolher porque lhe são naturais, porque as histórias que ela conta, ela vive e imagina, porque os sentimentos de que ela fala, ela sente.
E depois há a coragem, o momento em que escrevemos algo e nunca, mas nunca pensamos duas vezes antes de publicar, porque estas são palavras...sem filtro.

Se quiserem perceber um pouco do que vos digo podem seguir a Isabel e as suas histórias diárias aqui: facebook.com/isabelsaldanhaphotography

Mas não consigo resistir a deixar aqui 2 textos que a mim me tocaram especialmente em dois momentos diferentes, não os classificando pela sua qualidade mas pela magia de me falarem ao ouvido naqueles dias.
"Tenho uma amiga que quando me liga, costuma dizer sempre:
Estou te a ligar porque és a minha amiga mais feliz! Eu rio-me, agradecida. Sou feliz sim e quando não sou tanto assim, colo-me a ideia de que a tristeza é uma condição provisória, nem sequer lhe dou a importância de construir um abrigo, acho que quando nos defendemos muito o inimigo anima-se. Às vezes não percebo que haja tanta gente a viver numa consciência envergonhada de ser feliz, como se a tristeza fosse a maturidade da vida e um adulto feliz fosse um palhaço por disfarçar. Pouco me interessa se a alegria em excesso possa ser confundida com uma bebedeira em vida. Problemas toda a gente tem é um facto. Também nem toda a gente nasce com a sorte de ter um plug-in que dá "amonas" valentes a tudo o que tenta minar essa construção.
É inevitável, a tristeza irrompe sempre pela vida, o importante mesmo é não lhe dar conforto que chegue para se instalar. Como aquelas pessoas chatas que para apressar recebemos em pé.
Penso imensas vezes sobre as razões porque insisto tanto em ser feliz. Acho que à força de querer tanto já não sei ser outra coisa. E não tenho medo nenhum de o afirmar, porque também existem uns tantos teóricos da vida que acham que as coisas boas se guardam no cofre, eu prefiro saldar gargalhadas numa venda de garagem. Acho que é inegável que existe uma cumplicidade grande entre o sofrimento bem digerido e a maturidade. As melhores pessoas que conheço não são as tristes, são aquelas que digeriram a tristeza da vida e converteram isso em fermento de carácter. E essas pessoas, também não são aquelas que passam a vida a acusar a sua condição de orfandade para se fazerem grandes empoleirados na tristeza. São aqueles que choraram na altura certa, que deram o desconto ao sadismo da vida, que condescenderam desde novos com as incongruências do destino, que não desistiram dos seres humanos só porque nem tudo era perfeito, nem ficaram reféns na procura passiva do sentido de justiça. Essas são as pessoas TOP! São os amantes da vida. A malta que aprendeu a sacudir a poeira dos maus momentos com património de felicidade, são os que acreditam genuinamente nas pessoas e por isso ainda se surpreendem, são os que perceberam a dimensão do tempo e por isso conseguem viajar a partir de qualquer lugar. Essas pessoas que conheceram a evidência mais crua da vida são as que mais conseguem criar, são as que olham para uma planície árida e imaginam uma floresta imensa. Essas pessoas sentem-se responsáveis por animar o mundo, só porque se sentem agradecidas por serem animadas. Essas pessoas são guerreiras porque acreditam que o sentido maior da paz nasce na tranquilidade serena de aceitar que algumas batalhas da vida são feitas para perder. A dimensão do tempo é a dimensão da vida. O passado tem apenas o efeito edificante de nos lançar para o futuro e o presente é o lugar em que acontece tudo. Ninguém cuida muito das pessoas felizes porque elas parecem estar sempre bem. E as pessoas felizes sabem que têm que estar bem porque aprenderam a cuidar de si mesmas.
Não sei se sou a amiga mais feliz, mas sei que enquanto vou podendo, vou vivendo, sem medo, de ser apenas, feliz."


"Se procurasse nos álbuns, com sorte, talvez encontrasse uma foto enternecedora de um pai vintage com calças à boca de sino, camisa cintada de golas pontiagudas e uma criancinha loira com chapeuzinho de elástico na cabeça, sapatos ortopédicos e meias pelo joelho, que seria eu. Depois, punha uma legenda amorosa e era tudo mentira, porque um pai não se forja numa Polaroid, forja-se na presença dos dias, no impulso do carinho, na constância, no temperar da impaciência, na resiliência, na perspectiva de um futuro e no colo demorado. Não tive essa sorte, tive outras. O meu pai, da pasta só tinha o título. E como respeito o sentido etimológico das palavras desde que tinha idade para estar ao colo de um pai, passei a chama-lo "Senhor".
Que me perdoe o Senhor lá de cima que apesar de também aparecer pouco, dizem que quando dá os ares da sua graça, faz milagres. Sabia o que era um pai e tive um avó que desejei com muita força que tivesse o cabelo mais escuro para fazer as vezes de pai. Fiz me pessoa sem essa figura e não dramatizo, mas quando era criança, dava por mim a pensar qual seria o critério em falta para coxear como filha, pensei que isso estava lavrado no código das relações e quis denúncia-lo por incumprimento, mas o amor não se oferece a penas e cresci assim, forjando-me como sabia no amor a mim mesma. Mas vocês não loirinhas. Vocês tiveram a sorte de ter um pai à altura dos sonhos que tive para mim. E hoje quando dou por mim a invejar a forma voraz com que soletram Pai, dou por mim a pensar que o vosso amor próprio tem a dose certa do amor do pai e do amor desta mãe que recolhe muitas vezes ao quentinho do vosso colo para matar as saudades de uma fotografia que nunca conseguiu encontrar."

a mim ninguém me manda flores

8.10.13
A usar lenços na cabeça desde 1992. E continuo a gostar:) Mas porra, há quem escreva posts destes sobre mim:

"Pronto, eu comecei a escrever este post porque ia falar da Frida Kahlo e contra as tendências, mas ao chamar ao pensamento a imagem da Frida, lembrei-me da Sílvia, que é uma mulher dessas, que traz no corpo todas as cores da sua alma, e de como foi bom, aqui há uns tempos, ter conhecido a Sílvia em pessoa e ter ficado a observá-la, da janela do café onde nos íamos encontrar, a descer a rua com o estilo arco-íris, como se saísse de um livro, de um filme, de uma canção de rock´n´roll, e de essa visão me abrir um sorriso de alegria infantil. " 

 in Locais Habituais - Pessoas únicas -  a Sílvia

E se muitas vezes sinto que as pessoas não me entendem ou que eu não entendo as pessoas, e sinto uma enorme solidão neste mundo online (e no real por vezes também), outras vezes sinto as palavras dos outros como um espelho de mim, simples, directas, sem rodeios, só porque as pessoas são desta ou de outra maneira e há quem se identifique e quem sorria e quem fale bem de nós.
É uma honra, ter as palavras da Dora a falar de mim, hoje no blog dela, sem imagens nem fotos de perfil, só palavras, das boas, das que se juntam e fazem um retrato.

Obrigada!

há dias em que ela me irrita profundamente

7.10.13
Fotografia, 07-10-13 - 11.12 #3 - nunca chega a horas;
- não arruma a secretária;
- mistura trabalho com diversão e está neste preciso momento a fazer fotografias estúpidas em frente ao computador;
- aquela caixa de correio dela tem sempre mais mensagens por ler, do que os dedos das minhas mãos;
- será que ela não lê posts de auto ajuda nos blogs? como se organizar, como ter sucesso, como ser uma mãe perfeita, como ter o local de trabalho adequado e arrumado?
- procrastinar! aí está algo que lhe digo sempre para eliminar do seu dicionário, mas adianta? digam-me, adianta?
- e as crianças? as coisas que ela lhes promete que vai fazer e não faz? é a horta, o quarto dos brinquedos, o jardim zoológico, a bicicleta nova, ir cortar aqueles cabelos que as crianças quase não vêem nada...enfim...
- e já agora alguém já reparou no cabelo dela? pois, não preciso de dizer nada pois não? podia ir a família toda passar o dia inteiro no cabeleireiro que só lhes fazia era bem;
- não pratica desporto;
- não come a horas;
- não tem um horário de jeito, a mulher não se organiza, às duas da manhã anda por aqui, click, click e quando vou a ver comprou mais umas cortinas no etsy! mas é possível? ela não tem sapatos de jeito, mas cortinas velhas não lhe vão faltar;
- o carro dela tem mais lixo do que o contentor lá de casa, e não falo só de papéis, falo de 'coisas', várias coisas. Para não mencionar como e que é possível alguém andar com os brinquedos de praia e o guarda-sol na mala, o ano todo, é possível? digam-me?
- digo-vos, estou farta de trabalhar com esta rapariga, por este andar nunca mais fico rica e muito menos famosa!

as minhas barrigas @ bellysketcher

4.10.13
as minhas barrigas @ bellysketcher as minhas barrigas @ bellysketcher Já foi há mais de 2 anos que estive grávida pela última vez. Confesso que quando olho para as minhas fotos fico já um pouco nostálgica, não de estar grávida, mas do efeito bebé, do cheiro, do colo, daquela sensação única que se tem. Quem já foi mãe, sabe do que falo.
Não, não estou grávida outra vez, nem planeio estar, se bem que há dias em que a ideia do 3ª filho me agrada, mas há outros em que parece uma grande loucura:)

Quando vi o trabalho da Inês, tive pena de nunca ter feito nada do género na minha gravidez, para imortalizar a imagem numa das minhas paredes. Mas depois falei com ela e percebi que podia fazer algo parecido através de fotografias. E assim foi, seleccionei algumas fotos de ambas as gravidezes e enviei para a Inês. Não lhe disse mais nada sobre o trabalho, nunca a vi nem ela a mim, nunca falei com ela ao vivo. Pois foi com surpresa que abri os meus desenhos no outro dia e vi a minha imagem, grávida, desenhada, com as minhas cores preferidas, com o crochet cá de casa, com o meu universo.
Fiquei muito feliz. E agradeci à Inês por este momento tão especial, e tão fora de tempo, que me encheu de boas memórias.

A Inês também anda por aqui nas mudanças no Muda de Página e eu sei que nunca lhe vou poder oferecer a mesma sensação de surpresa que ela me ofereceu a mim, mas fico muito feliz por ajudar a preparar uma casa para receber estes lindos desenhos no mundo dos blogs.

Bom fim de semana!

PS: a imagem de cima é na gravidez da Lígia e a de baixo na da Simone

www.bellysketcher.com

women I admire don´t wear heels*

3.10.13
(* women I admire don´t wear heels é o nome do board do pinterest de La Casita de Wendy, todas as fotografias fazem parte desse board) 

Aos 35 anos ainda não faço muitas coisas que achei que iria fazer, uma delas é usar saltos altos.
Não sei.
Não me sinto bem.
Uso pontualmente sandálias altas no Verão, mas o que é alto para mim não é quase nada para qualquer mulher.
Quando me encontro no meio de mulheres da minha idade, em mega saltos, carteiras de pele, caras e cabelos arranjados, fico a pensar onde andei todos estes anos que ainda não me sei 'apresentar' para a minha idade. Sim, porque quer queiramos quer não, é este pensamento que nos ocorre. Por mais livres e conscientes do nosso estilo que sejamos, e eu sou, há momentos em que a única sensação que nos percorre é o desconforto de ser diferente. E se me perguntarem o que eu escolheria neste momento, eu escolhia ser como sou, mas poder calçar saltos sempre que me apetecesse e parecer que estou de sapatilhas. Não é possível pois não? Não.

Depois há este mundo louco da blogosfera e das redes sociais, em que toda a gente tem e parece e vende. Em que todos os dias entram no nosso ecrã milhares de mulheres de todo o mundo, com posts sobre o que compraram, o que comeram, onde foram, o batôn e a blusa, o cabelo e o rímel, os sapatos sempre novos e prontos para fazer a maratona na cidade, posts a que todos têm direito, claro que sim, vidas que existem de uma forma ou de outra, mas que por vezes parecem camiões a passar em cima dos olhos de quem lê. E nós só vemos e lemos o que queremos, certo também, mas é como estar no meio de uma festa de luzes e carrosséis e fazer de conta que não se ouve o barulho. Impossível.

Bem, tudo isto para dizer que hoje me cruzo com este quadro do pinterest da 'Casita de Wendy' uma marca, escola e blog que vou admirando à distância, pelo estilo que imprimem em tudo o que fazem e pela mensagem que passam. E fundamentalismos à parte, que não é essa a minha intenção, fiquei algo reconfortada ao olhar para este board do pinterest e ver tantas caras que também eu admiro.
E isto não é apenas sobre os saltos altos, nem sobre qualquer acessório de moda, mas sim sobre o impacto das imagens, da nossa imagem na nossa vida. Sobre quem somos e o que parecemos. Sobre as dificuldades de se manter uma individualidade, de não ter de mostrar para ser. De ser sem parecer.

arte

1.10.13
oldies but goodies Se há discussão que se aproxima da questão da fé, é a discussão da arte.
O que é arte. Quem decide o que é arte. E de facto, entre várias abordagens, é difícil chegarmos a um consenso, a uma definição que nos sirva a todos e que todos conseguimos compreender. Por isso a determinada altura deixa-se essas coisas para os críticos, os especialistas, que a maioria de nós não faz a menor ideia de quem são nem em que princípios se baseiam.
E tudo entra num campo enevoado a partir do qual já ninguém se parece interessar.

Hoje o Seth Godin, fala de arte e define a arte de uma forma muito objectiva, como é característico nas suas abordagens.
E assim, sem muitas discussões eu consigo concordar com ele:
"Art doesn't mean painting, art doesn't mean realistic and art doesn't mean beautiful."
"Art doesn't mean craft. And art isn't reserved for a few."
"Art is the work of a human, an individual seeking to make a statement, to cause a reaction, to connect. Art is something new, every time, and art might not work, precisely because it's new, because it's human and because it seeks to connect."
"Five hundred years ago, no painter would talk to you about ideas, or even impact. Painters merely painted. Today, you don't need a brush to be an artist, but you do need to want to make change."
(leiam aqui o artigo completo)

E hoje, falando em arte e pensando nas novas formas de a fazer, ouço ao mesmo tempo uma música que também é um poema e que enquanto forma de arte nos consegue tocar a quase todos, não é verdade?

  (via FB da Marta Plástica)