cata-vento

17.6.14
flowers not vintage
Desde o tempo de miúda em que visitava com a minha mãe a loja da D. Berta no Lumiére que eu sonhava em ter uma loja vintage. Naquela altura esta expressão nem existia, mas eu só imaginava que aquela senhora passava a vida a procurar tesouros nos sótãos das casas mais bonitas do Porto. E do mundo. Sim, porque para mim, aquela senhora com óculos pontiagudos, sapatos roxos e chapéu na cabeça havia de viajar muito pelo mundo. Como eu um dia faria. Isto de andar na escola era apenas uma ponte para uma vida 'desviada' que eu sonhava ter. Entre bastidores de teatro e pubs de final de tarde em Londres, eu seria uma destas excêntricas que apenas o mundo poderia classificar.

Bem, deixemo-nos de histórias, que todos vocês sabem que eu hoje estou mais para 'geek' e dona de casa do que outra coisa, lá está, o mundo terá de esperar por mim e eu terei de continuar a sonhar com ele. Nunca se sabe.

Fico muito feliz por poder ver e visitar tanta coisa boa a aparecer no Porto que recupera tantas memórias e imaginários de casas e vidas passadas, que recicla e valoriza o que um dia foi nosso, e traz à nossa cidade todo um ecletismo que as mega stores nunca vão conseguir trazer. E o Porto é propício para isso, porque de todas as cidades do país sempre foi a que mais charme emanou nas ruas. Digo eu, que sou suspeita!

Há umas semanas atrás fui com a minha melhor amiga desanuviar as ideias e visitar a casa aberta das irmãs Ana e Patrícia, criadoras da loja Cata-vento Vintage. Foi uma surpresa tão boa visitar a casa delas, o bom gosto é uma coisa que não tem preço nem idade e que se sente facilmente em quem o detém. E elas têm muito bom gosto. A loja delas é a prova disso mesmo e as peças que elas seleccionam são escolhidas minuciosamente para fazerem parte deste pequeno tesouro que é o Cata-vento.

Aproveitei para tirar algumas fotos, trazer mais umas peças para mim, experimentar roupa e falar um pouco com elas, sobre este mundo das velharias, da segunda-mão e do vintage em Portugal.
Querem entrar e conhecer a Cata-vento melhor? Venham:

cata-vento (vintage shop)cata-vento (vintage shop)cata-vento (vintage shop)

Nome(s): Ana Carolina e Patrícia Jorge
Idade: 36 e 38 anos
Ocupação: à procura de novos futuros
Presenças web: Facebook Cata Vento
3 palavras sobre o cata-vento: amor pelos pedaços do passado


1 - O vintage é algo recente na vossa vida ou já tem, tal como as peças, um longo passado? 

O bichinho do vintage está dentro de nós há bastante tempo. Sempre fomos ‘recolectoras’ de objectos e pedaços do passado. Primeiro por nostalgia das coisas que tinhámos em casa das nossas avós: objectos da cozinha, peças de roupa, sapatos, malas, botões, revistas de Moda (a nossa tia-avó era modista!), brinquedos, “o infinito e mais além. As cores, as linhas, os desenhos, a tipografia, são elementos que sempre nos fascinaram.
Rapidamente ficámos viciadas em coleccionar tralha e entusiasmadas com a possibilidade de ir montando “puzzles” de objectos com história.

2 - Como surgiu o cata-vento? 

Uma paixão partilhada por duas irmãs e uma vontade muito grande de fazer aquilo que gostam: andar a caçar tesouros de outros tempos. E bom, como já não temos mais armários e espaço para guardar tamanha tralhice, decidimos que seria interessante partilhar esta nossa paixão com as demais pessoas.

3 - Quem vos visita o que pode esperar encontrar? 

Por um lado, aquilo que já é designado como o ‘malódromo’, onde vamos expondo diferentes tipos de malas e carteiras. Depois armários recheados com peças de roupa, loiças, objectos de decoração de décadas passadas, bem como algumas peças de mobiliário.

4 - As vossas peças são exclusivamente portuguesas ou também vêm de fora? O que vocês acham do vintage português vs o de outros países? 

Em termos de objectos para o lar damos bastante importância a peças genuinamente portuguesas: garrafas térmicas da Fergel ou da Lusotermo, plásticos da Plasfil, da Figueira da Foz ou de Leiria e loiças de marcas históricas como Sacavém, Raul da Bernarda, Coimbra, Candal, Vista Alegre, Viana ou Sado Internacional. Claro que também temos coisas de outros países, em particular peças de roupa e carteiras. Não estamos dedicadas em exclusividade a uma única proveniência.

5 - Como é que se vive de vintage em Portugal? Há mercado em termos de procura e de material para alimentar um negócio? 

Há mercado e muito por explorar, agora há um interesse muito grande pelas maravilhas do design industrial e o nosso país tem uma herança industrial muito forte. A tipografia das zonas comerciais também ganharam muitos entusiastas.
É muito curioso perceber padrões reveladores da nossa história. Por exemplo, as malas e carteiras até aos anos 80 eram muito sóbrias, é raro encontrar peças de cores que fujam ao preto-castanho-azul e roupa que seja justa. As peças dos anos oitenta são ilustrativas da mudança, da utilização de cores, ou da quantidade de peças disponível.
Quando compramos noutros países percebemos muitas diferenças por época. Temos verdadeiras lições de história económica, social e cultural nestas andanças!

6 - Quem são os vossos clientes? 

Temos muitos amigos clientes e clientes que se tornaram amigos.
Compramos com base no nosso gosto pessoal, mas muitas vezes vemos peças e pensamos numa determinada pessoa. Temos pedidos pendentes de peças que tentamos encontrar. Mas creio que não tenhamos um perfil especifico de cliente.
Há quem vá para comprar uma mala e saia com um serviço de chá. A caça ao tesouro tem destas coisas!

7 - Já todos sabemos que passamos uma fase de revivalismo em Portugal, por isso as peças de décadas passadas estão muito em voga. Acham que isto é uma moda passageira ou veio para ficar? 

Sempre houve interesse pelas coisas do passado e é recorrente usá-lo para fazer o presente. O que é valorizado e está em voga é que vai mudando, percebemos que é ciclico, já passamos por alturas que todos queriam gira-discos, depois veio a vaga do mobiliário das décadas 50, 60 ou 70.
Neste momento podemos afirmar que é muito raro encontrar candeeiros para tantos pedidos. E bom, encontrar cães de loiça a preços acessíveis é missão impossível!
O sotão da avó, a casa da tia, a casa dos vizinhos foram essenciais para a construção dos nossos imaginários. Jogámos Spectrum, falámos no Tom Sawyer e na Candy Candy, víamos o Roque Santeiro e todos sabemos de cor as músicas do Verão Azul ou das Misteriosas Cidades do Ouro.
Já as gerações posteriores têm outro tipo de referências: as Playstation 1, os GameBoy ou o Dragon Ball, por exemplo.

8 - O vosso estilo pessoal é muito influenciado pelo negócio ou o negócio é influenciado pelo vosso estilo pessoal? Como é que se separam de peças que gostam?

Talvez a segunda opção seja a mais correcta, pois normalmente gostamos bastante das coisas que disponibilizamos para os outros. O processo de triagem por vezes é duro, implica sempre alguma negociação entre as duas – a irmã mais nova tem mais dificuldade em separar-se das tralhas. Vivemos um bocadinho com as peças e depois deixamo-las partir para novas mãos.

9 - E o Porto, com todo este rejuvenescimento da cidade, novos negócios e pessoas, é o local ideal para lançar um negócio deste género? 

É no Porto que vivemos e queremos continuar a viver. O eixo compreendido entre a Rua do Almada e a Mártires da Liberdade alberga variadíssimos locais dedicados às coisas do passado e é engraçado ver como os novos negócios se estabelecem e convivem ao lado das casas de velharias e antiguidades mais tradicionais.
Em relação à roupa somos grandes admiradoras da Mão Esquerda, da Absolute Tribute, da Mon Pêre entre outras, pois para além de encontrar peças incríveis, partilhamos amor pelas mesmas, é engraçado estar a conversar com quem vive isto e para isto durante horas.

10 - Para quando uma loja física e online? Está nos vossos planos?

Sim, obviamente adoraríamos ter um espaço físico, mas primeiro queremos ver como corre a experiência online.

11 - Para quem quiser ver as vossas peças ao vivo, onde vos podem encontrar nos próximos meses? 

Quem quiser visitar a nossa sala só tem que telefonar ou enviar uma mensagem e nós abrimos a porta de casa. Pelo menos uma tarde de sábado por mês teremos a porta aberta para quem quiser espreitar e temos algumas peças à venda na Mão Esquerda, Second Hand Shop, ali na Rua de Santo André, perto dos Poveiros.
  cata-vento (vintage shop)cata-vento (vintage shop)cata-vento (vintage shop)

E já agora fiquem a conhecer o serviço de chá mais bonito do mundo. É meu e veio da Cata-vento. Isso mesmo! (queria ter melhores fotos, mas para já é o que se arranja):
  serviço chá sacavem

3 comentários:

  1. A "Cata-Vento" tem peças fabulosas! Desde miúda que adoro coisas antigas, agora vintage. Lembro-me com saudades de ir a casa da minha avó, pedir-lhe as roupas de outras épocas que já nem ela vestia, lol. Tecidos, livros, loiças, roupas, adoro tudo. O serviço de chá é muito giro.

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  2. O que me foste lembrar. Eu sempre que ia ao cinema no Lumiere ia sempre espreitar a loja da D. Berta!Bons tempos!
    Beijinhos

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  3. Tenho mesmo que visitar. Adoro estas lojas! :)

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